Desde o início da guerra declarada pela Rússia à Ucrânia em 23 de fevereiro desse ano, muito se falou sobre qual o risco direto para economia brasileira.
Podemos dizer que diretamente o primeiro setor que poderá ser afetado será o agrário.
Mas como essa guerra pode afetar nosso agronegócio?
Vários pontos podem ser impactados, o primeiro deles é relativo ao nosso fertilizante.
A Rússia tem forte participação nas exportações globais de fertilizantes nitrogenados e detém parcelas significativas do mercado de fosfatados e potássicos. Para o Brasil, seu papel é ainda mais importante: somos diretamente dependentes dos fornecedores russos, responsáveis por suprir cerca de 15% da demanda doméstica de fertilizantes, principalmente em relação ao produto KCl.
Existem origens alternativas ao Brasil que, se necessário, podem substituir a Rússia, mas é preciso mobilizar esforços o mais rapidamente possível para reorganizar a logística e evitar problemas de abastecimento mais adiante. Pode não haver tempo para esta reorganização, o que comprometeria o suprimento para o mercado brasileiro.
Outro ponto importante relativo ao fertilizante é quanto ao seu preço. A tendência de que os preços internacionais voltem a subir é latente.
Ademais, outro temor é relativo a uma possível retaliação da Rússia em caso de uma prévia sanção do ocidente à guerra. No caso dessa retaliação russa cortando a exportação de seu gás natural, insumos para adubos e fertilizantes podemos ter problemas diretamente para as novas safras.
Complementando o tema, podemos levantar que do ponto de vista contratual esse conflito pode impactar diretamente nas relações existentes nas cadeias produtivas, municiando eventual quebra contratual por falta dos insumos e produtos necessários para a finalização da cadeia produtiva brasileira, onde o mercado interno não conseguirá atender aos contratos vigentes, desencadeando o popular efeito “dominó” em vários setores do mercado interno.
Outro ponto de grande impacto ao agronegócio decorre do aumento contínuo nos preços que, se perdurar por tempo indeterminado, pode ensejar em perdas do ponto de vista cível e o mercado interno, uma vez que poderemos vivenciar diversos inadimplementos perante instituições financeiras ocasionados pela dificuldade de honrar o pagamento de crédito cedular/hipotecário, aliado ainda a reiterados pedidos de resolução contratual ou reequilíbrio contratual face a onerosidade excessiva do contrato ocasionado pela elevação superior à média esperada nos preços, bem como a falta dos produtos no mercado externo.
Nunca é demais ressaltarmos que esse panorama geral se trata de um retrato do momento, quando ainda não se sabe ao certo qual será a intensidade do conflito daqui por diante nem quanto tempo irá durar – e muito menos qual será a dimensão da reação internacional diante da agressão à Ucrânia. Em situações assim, o panorama pode mudar de um momento para o outro.
Informamos que em caso de dúvidas ou necessidades adicionais sobre o assunto e suas consequências do ponto de vista cível e contratual, estamos à disposição para atendê-los